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Conselhos de um velho programador antissocial e ranzinza


Mirone
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3 posts in this topic

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Faz tempo que quero escrever um texto com dicas para programadores que estão começando agora ou estão com dúvidas sobre que caminhos seguir em suas carreiras. No entanto, sempre tive medo de que esse texto virasse mais um dos inúmeros textos de autoajuda que existem por aí. Esse não é meu estilo. E também não queria que fosse um texto puramente técnico.

Passei os últimos 40 dias bem afastado da minha rotina, sem programar muito e praticamente vivendo a vida de dono de casa, cuidando do Francisco, meu filho de (quase) 2 anos. Durante esse tempo pensei muito na minha carreira, na minha vida, na profissão que optei por seguir. Pensei muito nos caminhos que escolhi, nas oportunidades que agarrei e nas que deixei passar. E a conclusão que cheguei foi a seguinte: no final das contas, nada disso importa.

É claro que suas escolhas definem quem você é, mas você vai ter sempre arrependimentos, vai estar sempre em dúvida, vai sempre achar que seguiu o caminho errado.

O que realmente importa é: eu amo programar, amo conceber e desenvolver produtos. Amo resolver problemas. Isso me faz feliz.

Nós, programadores, estamos sempre insatisfeitos. Acho que nunca vamos estar 100% felizes em um emprego, seja ele no Brasil ou no exterior, em uma startup ou em uma multinacional, como empregado ou empregador. Vai sempre existir política, você vai ter sempre que fazer coisas que não gosta de fazer. É como diria meu sogro, quem fala que ama o seu trabalho está mentindo.

Ache um emprego que te faça o mais feliz possível. Que te dê espaço para utilizar sua criatividade. Que te dê tempo para praticar e experimentar novas tecnologias. E que, principalmente, te cerque de pessoas como você. Pessoas que te inspiram, que te motivam e que reclamam de tudo e de todos. Uns totais insatisfeitos.

Ache um emprego no qual não seja tão difícil acordar de manhã (ou qualquer que seja o seu horário) e ir trabalhar.

E pare de ler textos sobre just quit it. Isso não funciona na prática e são altas as chances de você se arrepender. Pense muito bem antes de tomar uma decisão dessas, converse com as pessoas próximas e procure sempre sair bem.

Aquele velho papo de deixar a porta aberta, mas não é bem isso, é simplesmente não se estressar à toa, com coisas que não importam. Quanto mais cedo você conseguir separar o que é realmente importante das coisas que não tem a menor importância (a grande maioria), tudo vai ser mais tranquilo.

Estamos vivendo uma época paradoxal para desenvolvedores. É muito fácil aprender qualquer coisa hoje em dia e, por isso, você precisa saber tudo. Você precisa ser o melhor em tudo o que faz. Vão sempre te comparar com outros desenvolvedores. Você mesmo vai estar sempre se cobrando, duvidando do seu potencial — sempre vai existir alguém “melhor” do que você.

Isso é uma grande besteira. Cobre menos de você mesmo. Procure aprimorar as coisas que você gosta de fazer. As pessoas são diferentes. Vá devagar, enjoy the ride.

Nem todo mundo nasceu pra mudar o mundo e isso foi uma coisa que demorei a entender e aceitar. Mas nada impede você de fazer pequenas mudanças: na sua casa, no seu emprego, no seu círculo social, no seu bairro, na sua cidade, no seu estado e por aí vai.

Aos 34 anos, uma outra conclusão que cheguei foi: esse sou eu, não vou mudar muito mais do que isso e eu tenho que aproveitar minhas qualidades e aceitar meus defeitos.

Esse é um passo importante para a sua vida profissional. Conheça e aprimore suas qualidades e aceite seus defeitos. E, principalmente, seja honesto, fale a verdade, por mais difícil que possa parecer. Seja honesto com você mesmo e com os outros profissionais do seu time/empresa. Fique longe de fofocas, intrigas, conspirações. Os bons profissionais e gestores gostam e valorizam pessoas que falam a verdade, pessoas diretas, mesmo que você diga o contrário do que todo mundo gostaria de ouvir.

Seguindo esse conselho, é ainda muito importante saber a diferença de ser sincero e ser polêmico a troco de nada. É também muito importante aprender a falar as coisas da melhor maneira possível, pensando sempre que do outro lado da conversa está um ser humano com problemas e sentimentos muito iguais aos seus.

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Quando as pessoas falarem ouça tudo. Não pense que no que você vai dizer. A maioria das pessoas nunca ouve. Nem observa. Você deve ser capaz de entrar em um quarto e quando sair dele saber todas as coisas que viu lá e não apenas isso. Se aquele quarto fez você sentir algo, você deve saber exatamente o que deu a você esse sentimento… E sempre pense nas outras pessoas.

Confie no seu instinto. No início ele pode te enganar, mas aos poucos vocês vão se entendendo. E, hoje em dia, eu duvido muito menos dele (ainda teimo em duvidar). Eu sei quando um projeto vai dar errado, sei quando um cliente não vai ser um bom frila. É aquele frio na barriga, aquela sensação esquisita de que alguma coisa não está certa. Isso é instinto, converse com ele.

Você ainda vai passar por uma fase de freelancer e ela pode ser definitiva. Durante essa fase, você vai descumprir prazos e assumir compromissos que você não deveria ter assumido. O que separa um freelancer bom de um freelancer ruim é justamente como ele lida com isso.

É normal atrasar, estimativas são estimativas (muitas vezes você vai entregar antes também). Mas avise seu cliente com antecedência. Dê sempre um status de como estão as coisas, se está indo tudo bem ou não. Dê tempo para que ele possa reagir.

Não desapareça, não diga que vai entregar amanhã, não entregue nada malfeito, pela metade, só para cumprir prazos. Isso vai fazer mal para todo mundo, mas principalmente para você. Não é muito difícil ter profissionalismo como frila, as coisas às vezes parecem muito piores do que realmente são.

Seja parceiro do seu cliente/fornecedor, coloque-se no lugar dele. Talvez você também passe por uma fase empresário (definitiva ou não) e nessa hora você vai entender e dar valor aos bons freelancers.

E, por favor, aprenda a dizer não (instinto!).

Todos esses textos sobre programadores falam da importância da família e de socializar. De fato, isso é importante — se você for esse tipo de pessoa. Eu sou bem antissocial e ficar sozinho é extremamente importante pra mim. É uma coisa que me faz feliz e isso não pode ser ruim.

No entanto, saia mais do seu mundo, procure inspiração em outros cantos (isso não quer dizer socializar). Filosofia, arte contemporânea, música, natureza, poesia, voluntariado, andar na rua a esmo, livrarias, brechós, viagens, esportes, cerveja, mitologia, arquitetura, culinária, quadrinhos, vinho, moda, café, videogame, política… qualquer coisa que te dê aquela sensação de novidade, que te faça ter vontade de inventar/construir alguma coisa.

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O CORAÇÃO QUE RI

A tua vida é a tua vida
Não a deixes ser dividida em submissão fria.
Está atento
Há outros caminhos,
Há uma luz algures.
Pode não ser muita luz mas
vence a escuridão.
Está atento.
Os deuses oferecer-te-ão hipóteses.
Conhece-las.
Agarra-las.
Não podes vencer a morte mas
podes vencer a morte em vida, às vezes.
E quanto mais o aprendes a fazê-lo,
mais luz haverá.
A tua vida é a tua vida.
Memoriza-o enquanto a tens.
És magnífico.
Os deuses esperam por se deliciarem
em ti.
(Charles Bukowski)

Funciona assim para mim e para muita gente: a maneira mais fácil de aprender algum assunto é escrevendo sobre ele. Não quer dizer que vai ser assim para você também, mas, no mínimo, você vai estar compartilhando conhecimento, enriquecendo o seu currículo e aprendendo um pouco que seja.

Não estou falando só de um post no seu blog (aquele que você prometeu escrever pelo menos uma vez por semana), estou falando também de projetos open source (enriquece ainda mais o seu currículo). É comum desenvolvedores no início de carreira terem vergonha de seus códigos. Não tenha. Vão falar mal, todo mundo fala mal de tudo, mas você vai aprender muito. Vai ter gente que vai falar bem. Você vai receber pull requests, issues e tudo mais. Pode demorar alguns anos ou pode ser uma coisa que vai explodir e o seu repositório vai para a página de trending repos do Github. Você nunca vai saber.

Se é útil para você, certamente vai ser útil para mais alguém.

E quando alguém te perguntar por que você está tentando reinventar a roda diga que, na verdade, você está desmontando a roda e construindo de novo do seu jeito. Essa é também uma outra ótima forma de aprender.

 

Fonte: http://gizmodo.uol.com.br/conselhos-de-um-velho-programador-antissocial-e-ranzinza/

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Olá

 

Cara muito legal isso, adorei mesmo. Eu tenho 16 anos quase 17 e quero muito ser Engenheiro Civil e esse texto me inspirou pra caramba.

 

Enjoy the ride, essa expressão foi a que eu mais gostei, temos mesmo que sempre aproveitar tudo o que se está fazendo ou aprendendo.

 

Valeu Mirone por compartilhar esse texto :)

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